Andorinha-azul: Uma ave unindo continentes!

A andorinha-azul é uma ave migratória, que faz um percurso de 8 a 20 mil quilômetros entre a América do Norte, onde vive se reproduz, e a América do Sul, para onde vem no inverno em busca de temperatura mais amenas. Dentre as espécies de andorinha encontradas no Brasil, é considerada grande. Tem o bico ligeiramente curvo e largo, e a sua cauda é bifurcada. Seu padrão de vôo é típico de andorinhas, com planeios curtos alternados com batidas longas de asas.
No leste e no noroeste da América no Norte, fazem seus ninhos em construções feitas pelos seres humanos, como cabaças perfuradas e caixas de madeira, enquanto no oeste, utilizam cavidades naturais, muitas vezes construídas por espécies de pica-pau.

        As andorinhas-azuis e outras 434 aves foram ilustradas por John James Audubon e impressas, em tamanho real, em 1827, no livro “Birds of America” (“Aves dos Estados Unidos”). Veja como, nesta imagem, feita há quase 200 anos, Audubon já ilustrava as cabaças que servem de ninhos para as andorinhas-azuis até hoje.

“Aves dos Estados Unidos”, de John James Audubon

Uma espécie adotada pela comunidade

        A andorinha-azul possui uma longa história de interação com os seres humanos. Nos Estados Unidos e no Canadá, há centenas de anos são parte da cultura das as populações indígenas, que disponibilizavam locais para que elas fizessem seus ninhos. Hoje, esta espécie depende de ninhos construídos por nós para se reproduzir na maior parte da Américado Norte. 

a incrível migração da andorinha-azul

        Até recentemente, os caminhos de migração da andorinha-azul não eram bem conhecidos. Anteriormente, o destino final e alguns locais em rota eram conhecidos a partir dos dados de alinhamento O mapa abaixo mostra tanto a área de reprodução na América do Norte quanto a área de invernada na América do Sul, juntamente com os possíveis caminhos de migração.

        Isso mudou em 2007, quando o PMCA e a York University implantaram os primeiros geolocalizadores em andorinhas-azuis, o que nos permitiu visualizar as rotas migratórias e a duração desta viagem através dos continentes.

        A viagem pode ter de 8 a 20 mil quilômetros de distância, dependendo do grupo de andorinhas. Imagina-se que a população que chega ao Sudeste do Brasil nos primeiros dias do verão venha do Canadá, enquanto as aves que ficam na Amazônia se reproduzam no Leste dos Estados Unidos. Ainda temos muito a descobrir sobre estas diferentes rotas.

        Veja este filme que mostra algumas aves que vem da Pensilvânia para o Brasil. Cada ponto que se move no mapa é um andorinha-azul que foi equipada com um geolocalizador. Para obter os dados, é necessário recapturar a ave no ano seguinte à instalação do pequeno equipamento, o que nem sempre é possível.

 

Um pouco de história

        No Brasil, sua história de convivência com os humanos é marcada por momentos de muito carinho e alguns conflitos. Na Amazônia, as andorinhas azuis são famosas formar imensos bandos, de mais de 100.000 indivíduos, na refinaria da Petrobrás situada no Rio Negro, na década de 80. No estado de São Paulo, foram imortalizadas em Campinas, conhecida como cidade das andorinhas. Não há morador do interior paulista que não se lembre das imensas revoadas que ocupavam as praças das cidades de São José do Rio Preto, Araraquara, Ribeirão Preto e Rio Claro na década de 70.

AS ANDORINHAS DE CAMPINAS

Rui Barbosa

        “Muitas e muitas vezes me atraiu aqui, nas tardes de estio, à vossa praça de Carlos Gomes, o espetáculo das andorinhas. Louvada seja a vossa edilidade por haver respeitado esta maravilha, e não ter desfeito a antiga pousada a esses alados mensageiros do espaço. Os estranhos, os peregrinos da curiosidade e do gosto, virão com frequência contemplar embevecidos, como eu, o incomparável quadro vespertino. O pincel dos amigos da natureza trabalhará por debuxá-los nas telas com as mais suaves tintas da sua palheta. Algum poeta o dedilhará na lira, em versos que perdurem como os de Anacreonte.


        Eu não canto, nem pinto; mas revejo e recordo. 

      Pelo límpido azul já sem sol, antes que se lhe esvaia de todo o ouro dos seus átomos de luz, mas quando o crepúsculo entra a desmaiar do seu brilho a safira celeste, um ponto retinto, perdido nos longes mais remotos, se acentua em negro na cúpula do firmamento, lá bem no alto, bem de cima, como se a ponta de uma seta, desfechada perpendicularmente do além, varasse ali a redondeza anilada.


        Era um, e logo após, são muitos, já vêm surdindo inumeráveis, já parecem infinitos; já se cruzam e recruzam; já se encontram e circulam; já se condensam e escurecem. Era um grupo; e já formam um bando, já vêm crescendo em longas revoadas, já referem em enxames e enxames, já se estendem numa vasta nuvem agitada. Toldaram o céu, encheram o ar, vêm-nos ondeando sobre as cabeças. Agora, afinal, com os movimentos de uma grande vaga sombria, ponteada de branco, a librar-se entre a terra e a imensidade, baixa a massa inquieta, rumorejando, oscilando, flutuando, rasga-se na coroa das palmeiras, açoita os fios telegráficos, resvala pelos tetos do casario, e, ao cabo, arfando e remoinhando, turbilhoando e restrugindo com o estrépito de uma cascata argentina, de uma cachoeira de cristais que se despedaçam, chilreada imensa de vozes e grasnidos às dezenas e dezenas de milhares, pende, mergulha e desaparece, numa imensa curva borbulhante, por sobre o largo telheiro abandonado que essa aérea multidão erradia elegeu entre vós para abrigo do seu descanso nas cálidas noites de verão.”

Retirado da transcrição de Nogueira, A. (1971). Rui Barbosa e Campinas. Revista Da Faculdade De Direito, Universidade De São Paulo, 66, 431-449. Recuperado de https://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/66637

A rota do sol

Video de 1994 mostra excelente reportagem de Ciro Porto - EPTV Globo Camoinas - sobre a andorinha-azul.

 Ciro Porto é um dos mais destacados repórteres de natureza no Brasil e o programa Terra da Gente é uma referência fundamental entre a produção de conteúdo televisivo voltado a observadores de aves e amantes da vida ao ar livre.